E vi um balcão cheio de doces. No fundo, uma prateleira espelhada com vários tipos de pão. O teto de madeira, com luminárias, fazia do ambiente um lugar aconchegante. Era Dezembro; luzinhas natalinas enfeitavam o contorno das portas, um papai noel pendurava-se no alto de um armário. A noite já tinha caído, e a padaria estava cheia de gente, a rua estava cheia de gente, a cidade estava cheia de gente.
E eu, agarrado ao braço da minha mãe, lhe fiz um único pedido: queria aquele sonho, aquela coisa cremosa e mágica que repousava solitária na bandeja; aquele sonho que eu vislumbrava pelo vidro do balcão. Num gesto que só as mães têm, ela pediu para a mocinha embrulhar o sonho que encantaria a mesa do nosso café da noite.

E naquela noite eu me lambusei naquele doce; adormeci com os dentes cheios de creme e acordei há alguns dias, numa cidade já nem tão cheia de luzes, nem tão cheia de gente. Num lugar onde os balcões de padaria parecem todos iguais, infestados de pães duros ou emborrachados demais; onde o amor se esconde atrás dos olhos ansiosos de uma humanidade carente...
Olhei para cima num ato instintivo. Quando a coisa aperta, sempre olhamos para cima. Quis descobrir se ainda existiam crianças que se lambuzavam em sonhos de padaria; quis saber se o mundo sempre foi desse jeito, se eu é que ainda tenho os dentes sujos de creme enquanto o mundo tem bafo de cebola.
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5 comentários:
Mande-me um por gentileza.
Me lambuso de sonhos todos os dias e noites, mas se tiver um novo sabor, podemos fazer um intercâmbio padarístico.
Abraços.
Te vejo numa próxima padaria qualquer.
Raul! Você me orgulha, meu querido! Tão inteligente, bondoso, perspicaz quanto ao mundo... Você merece muito nessa vida! Continue escrevendo e fazendo o bem. O MUNDO agradece!
Beijos de uma amiga que ta longe, mas sempre com vc no coração!
sonho é bom!
quero quatro, pra viagem por favor. um pra mim, um pra minha irmã, um pra minha mãe e ou outro pro meu pai. e ah, enche aquele saco vermelho ali também, ó. porque aquele velhinho ali vai distribuir de chaminé em chaminé.
sabe, raul, sinto tanta falta do tempo em que todos se transformavam só por causa do natal...
e você sabia que sonho é um doce judaico que eles fazem pra comemorar o Chanucá, a festa das luzes? por isso que até hoje a gente enfeita a casa com luzinhas, não tem nada a ver com o natal, porque óbvio, judeus não comemoram natal :) legal, né?
muitos abraçoos
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