segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Liberdade?

Apesar de curto, este não é um texto de leitura rápida.

* * *

A liberdade existe?

Podemos encontrá-la em algum lugar?

Podemos realmente fazer tudo o que queremos?

A liberdade do outro conta alguma coisa...

ou simplesmente liberdade é festa da uva?

Regras... atrapalham nossa liberdade?

Ser livre é fazer tudo o que dá na telha?

É obedecer aos instintos?

Se ser livre fosse fazer tudo o que tivéssemos vontade,

então não seríamos simplesmente escravos dos instintos?

Ser livre é ser escravo...

ou ter o poder de decidir acima da vontade?

A liberdade é pré-requisito para a felicidade?

Se for, então por que buscamos a felicidade nos vícios...

que nos fazem dependentes?

Dependência e liberdade coexistem...

ou a independência é a verdadeira liberdade?

Falamos tanto em liberdade...

ao menos sabemos o que é isso?

* * *

A Velha Professora muitas vezes nos aparece com os nomes de dor, provação, sofrimento. Por isso fugimos dela. Estamos errados? Não, ninguém gosta de sofrer, prova de que o ser humano foi projetado pra alcançar a felicidade em todos os aspectos da vida. Mas freqüentemente cometemos enganos, e às vezes a nossa vaidade é tamanha que nos impede de corrigí-los. É o caso do aluno que não se conforma com a nota que tirou e atribui a culpa ao professor (sempre maquiavélico, perseguidor). Porém, assim como nossos esportes têm suas regras, o universo também tem as dele. Por exemplo: para entender o conceito de simpatia (sentimento de ligação entre as pessoas), basta observar como uma pessoa dócil se faz agradável e querida com facilidade. Não seria uma espécie de regra? Do tipo 'gentileza gera gentileza', 'ação e reação'?

Ora, se a vida é um eco de nossas ações, então já temos uma notícia boa! Significa que podemos, nós mesmos, produzir os efeitos que queremos. Basta agir conforme desejamos que sejam os resultados. Não vamos confundir dor com infelicidade. A infelicidade verdadeira é rir hoje ao preço de lágrimas em muitos amanhãs.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Velha Professora

Lugarejos e cidades pequenas costumam ser os lugares perfeitos para o surgimento de lendas. Contarei uma. Este mito é narrado em Pirapori, sertão do Mato Grosso; ouvi de um caixeiro-viajante que passou por lá.

A vila de Pirapori, com não mais de dois mil habitantes, sobrevive da extração de látex das seringueiras. Como pouca gente mora na área urbana, existem praticamente apenas três ruas no centro da cidade. Uma igreja, uma venda, uma delegacia e uma escola. Aparentemente normal, não é? Seria, se não fosse por uma espécie de figura mitológica que vive lá.

Alguns afirmam tê-la conhecido. Nos seus sermões, o padre prega que a Velha Professora ensina coisas que as outras professoras não conseguem. Velhos seringueiros, que praticamente também são "figuras mitológicas" com seus quase cem anos de idade, afirmam que cedo ou tarde todo mundo conhece essa Velha Professora. Quando ela chega, dizem, não é simpática. É dura, implacável, e faz muito homem velho chorar. Mas, no final das contas, se não fosse por ela, seria muito difícil entender certas coisas. E que depois a vida se torna muito melhor, mais alegre, mais simples.

Como você imagina que ela seja? A geração mais jovem de Pirapori costuma desdenhar o mito, e (como jovem tem mania de achar que sabe tudo) dizem que a tal da Velha Professora é conversa pra boi dormir. "A vida é para curtir", dizem. "Quem precisa de métodos cruéis para aprender alguma coisa? Masoquismo por quê? E além disso, quem falou que eu quero ser como ela me ensina a ser?"

O caixeiro-viajante que seguia do sertão do Mato Grosso para Balneário Camboriú estava sentado ao meu lado, no antigo trem, me contando a lenda de Pirapori. Me disse que já tinha sido ensinado pela Velha Professora, e que a verdade é que ela está em toda parte, não só na vila. Acrescentou que é melhor quando conseguimos aprender sozinhos, mas que quando somos alunos preguiçosos, ou vaidosos demais para fazer as lições, ela chega sem dar aviso. Passa e faz seu trabalho. Infelizmente, tem gente que esquece as lições e continua cometendo algumas gafes. Então a Velha Professora volta e repete o processo. Ainda, acredite, tem gente que resolve brigar com ela! Talvez pense que a revolta e os protestos vão fazê-la ir embora. Ledo engano. Ela só vai quando o aluno aprende. E quando isso acontece, o estudante, seja jovem ou velho, agradece.

Em certo momento, o caixeiro desembarcou. Admiro quem tem essa profissão, pois é como viver sem uma moradia certa, e para isso é preciso coragem. Então, sozinho, olhando pela janela a paisagem correndo apressada, refletia serenamente sobre o que eu acabara de ouvir. Já teria eu conhecido essa Velha Professora? Cheguei a conclusão de que não tive muitas aulas com ela, mas que já aprendi muito. E também concluí que se eu fizer o dever de casa, ela não vai precisar voltar.

Você já ouviu este mito? Se desconfia quem seja a Velha Professora, dê um palpite.
No próximo post eu canto a bola. :)

Raul