quarta-feira, 23 de abril de 2008

Amor, que nunca vai nos separar.

Durante um confronto bélico, um orfanato de missionários, numa aldeia vietnamita, foi atingido por várias bombas.

Os missionários e duas crianças morreram na hora e muitas ficaram feridas, inclusive uma menina de 8 anos.

Através do rádio de uma aldeia vizinha, os habitantes buscaram socorro dos americanos. Um médico da Marinha e uma enfermeira chegaram trazendo apenas maletas de primeiros socorros.

Perceberam logo que o caso mais grave era o da menina. Se não fossem tomadas providências imediatas, ela morreria por perda de sangue. Era urgente que se fizesse uma transfusão.

Saíram à procura de um doador com o mesmo tipo sangüíneo. Os americanos não tinham aquele tipo de sangue, mas muitos órfãos que não tinham sido feridos poderiam ser doadores.

O problema agora, era como pedir às crianças, já que o médico conhecia apenas algumas palavras em vietnamita e a enfermeira tinha poucas noções de francês.

Usando uma mistura das duas línguas e muita gesticulação, tentaram explicar aos assustados meninos que, se não recolocassem o sangue perdido, a menina morreria.

Então perguntaram se alguém queria doar sangue. A resposta foi um silêncio de olhos arregalados.

Finalmente, uma mão levantou-se timidamente, deixou-se cair e levantou de novo.

Ah, obrigada - disse a enfermeira em francês. - Como é o seu nome?

O garoto respondeu em voz baixa: Heng.

Deitaram Heng rapidamente na maca, esfregaram álcool em seu braço e espetaram a agulha na veia.

Durante esses procedimentos, Heng ficou calado e imóvel.

Passado um momento, deixou escapar um soluço e cobriu depressa o rosto com a mão livre.

Está doendo, Heng? - perguntou o médico. Heng abanou a cabeça, mas daí a pouco escapou outro soluço e mais uma vez tentou disfarçar.

O médico tornou a perguntar se doía, e ele abanou a cabeça outra vez, significando que não.

Mas os soluços ocasionais acabaram virando um choro declarado, silencioso, os olhos apertados, o punho na boca para estancar os soluços.

O médico e a enfermeira ficaram preocupados. Alguma coisa obviamente estava acontecendo.

Nesse instante, chegou uma enfermeira vietnamita, enviada para ajudar. Vendo a aflição do menino, falou com ele, ouviu a resposta, e tornou a falar com voz terna, acalmando-o.

Heng parou de chorar e olhou surpreso para a enfermeira vietnamita. Ela confirmou com a cabeça e uma expressão de alívio estampou-se no rosto do menino. Então ela disse aos americanos:

Ele achou que estava morrendo. Entendeu que vocês pediram para dar todo o sangue dele para a menina poder viver.

E por que ele concordou? Perguntou o médico.

A enfermeira vietnamita repetiu a pergunta, e Heng respondeu simplesmente:

Ela é minha amiga.

com base na história Um amor maior, de John W. Mansur,
de O livro das virtudes, de William J. Bennett,
ed. Nova Fronteira.

Vemos muitas vezes, por todos os cantos, pessoas capazes de matar por amor. Enquanto isso, em um distante Vietnã, o pequeno Heng estava disposto a morrer por amor. Pela namorada? Não; por alguém que ele considerava sua amiga. Falei da namorada porque raramente se concebe o amor separado dos beijos, dos amassos e de... só Deus sabe o quê.

Essa história chega a ser chocante para uma cultura calcada em filmes de Hollywood e poetas da 2ª geração do romantismo: em vez do típico “eu em primeiro lugar”, o doar de si mesmo sem esperar nada em troca. Isso soa algo absurdo perante o nosso individualismo estúpido.

Gente... de onde tiraram que suicidar-se depois de uma desilusão afetiva é morrer por amor? E que ciúmes é amor em excesso? Dependência, amor? Ora, dependência é dependência. Amor neste caso é um eufemismo, ou seja, um jeito menos radical de se dizer isso. Olha que bagunça nós fizemos com esta palavra... (na verdade com o sentimento inteiro).

Fica aí para se pensar. E entender o significado do amor, afinal, também não vale dizer “eu te amo” a torto e direito apenas para exercitar as cordas vocais. O amor não é a palavrinha... Heng amava tanto aquela amiga que não precisava ficar dizendo. Um sentimento nobre não se pronuncia, se testemunha.

Abraços a todos, e muito obrigado por lerem este blog. (:

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

(Carlos Drummond de Andrade)


César: Caraca, que rolo! A Lili bem que podia amar o João. Aí rolava um hexágono amoroso...
Pedro: O troca-troca bem que lembra uma quadrilha mesmo.
César: De criminosos?
Pedro: Não!! De festa junina, né César?! Os pares se trocam...
César: É, faz sentido.

César: Só não entendi por quê a logo a Lili, que não gostava de ninguém, foi a única que se casou!
Pedro: Ué! Tá na cara! Ela devia ser a boazuda da cidade; esnobou todo mundo e se casou por interesse!
César: Será?
Pedro: Claro! Olha o cara com quem ela casou; nem tinha nome-próprio, era um sobrenome ambulante! E com certeza o J. não era de Joaquim... morto não casa!
César: É, verdade mesmo.

Pedro: Olha, a Lili foi a única que terminou a história com alguém, não é?
César: Foi.
Pedro: E se a Maria ficou para tia, será que elas eram irmãs?
César: Olha, sei lá. Se eram, a Maria deve ter ficado indignada de ver a irmã fazendo pouco caso do Joaquim.
Pedro: Pior seria se a Lili tivesse dado uns 'cato' nele. O J. Pinto Fernandes ficava viúvo antes mesmo de se casar!
César: É, tem razão.

Coisas do cotidiano. (:

terça-feira, 8 de abril de 2008

Artistas do Mundo, uni-vos!

Você me diz que não tem dom para escrever.

Eu lhe digo "por quê? Acaso você já ousou?"

Você, timidamente, diz que "sim, já tentei. Mas não fica bom."

"Não" - eu respondo, em voz calma e pausada - "não perguntei se já fez uma tentativa. Lancei-lhe o questionamento: alguma vez já ousou, fora da sua aula de redação, pegar por conta própria lápis e papel e se pôr a escrever, sobre o que quer que seja, sem a preocupação de ser perfeito; e depois mostrar isso a alguém?"

Você pára por um instante. Reflete, busca no passado subsídios para responder à indagação. Mentalmente, confessa a si mesmo, "tenho vergonha. Não escrevo com tanta facilidade quanto os outros..."

Nessa nossa dimensão, onde as paredes, o teto e o chão são a mesma coisa - superfícies brancas e lisas a nos espelhar - e o pensamento se plasma como se projetasse as idéias para fora, eu leio o que se passa na sua mente e lhe revelo: "os outros me descobriram há mais tempo. Apenas essa a diferença."

"Mas... onde estou, e quem és tu? Como consegue me responder antes que eu diga a primeira palavra?". Seu espanto é evidente.

"É meio tarde para você estar conhecendo este lugar pela primeira vez" - pondero - "mas seja bem-vindo ao seu Universo Pessoal. Aqui se nascem as suas primeiras idéias, antes de elas se tornarem pensamentos. Por isso me é tão fácil identificar o que você está pensando."

"De onde você veio?", me perguntas, assustado. Perdão, às vezes eu esqueço de me apresentar!

"Sempre estive aqui, e agora é que você notou a minha existência. Pode me chamar do nome que quiser: eu sou a sua chama, o que faz de você uma individualidade única e diferente de todas. Não tenha medo de estar em evidência; não tema exteriorizar tudo o que há nessa vasta dimensão que até hoje você evitou desvendar. Só existe um igual a você, e este um está fazendo falta no conjunto, lá fora. Não se omita. Brilhe a vossa luz!"

Terminada a experiência transcendental de expansão da própria consciência, você toma contato com o mundo novamente. Relembra as coisas fantásticas que ouviu - que embora nem todos tenham a mesma facilidade para expressar sua arte, não há um ser que tenha nascido sem arte em si - e ouve de novo a minha voz: "Por onde começar?"

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Raul, 08/04/08

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Melodias em Dó Maior

Amar vem do verbo em latim amare, que significa sentir forte afeição por algo ou alguém.

Ok, isso não diz muito mesmo.

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Às vezes a gente se apaixona. Às vezes a gente realmente ama. E nem sempre que realmente amamos, estamos apaixonados. Nem todas as vezes que nos apaixonamos, a gente ama de verdade.

Não, não é confuso, basta saber diferenciar.

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Mas eu sei?

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Que confuso.